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A foto de Corumbá é a síntese da desigualdade de um Brasil pós-abolição da escravidão
O Brasil foi o país do mundo que mais recebeu homens e mulheres escravizados. O Cais do Valongo, por exemplo, chegou a ter engarrafamento de navios por 10 anos seguidos, todos os dias da semana. Os homens brancos importaram tantos escravizados que chegamos a alterar até a fauna marítima, visto que grandes predadores como tubarões e outros peixes acompanhavam barcos negreiros.
Essa imagem foi captada em Corumbá, no início dos anos 30, e mostra um homem branco, imigrante, vestido com roupas sociais, calçando um sapato de couro, enquanto um homem negro, atrás e afastado, caminha sem camisa e com a calça em trapos. É muito fácil, no primeiro olhar, saber quem desses dois homens está mais incluído no mercado formal e na sociedade de consumo. A pequena imagem mostra uma síntese das políticas racistas adotadas pelo governo federal brasileiro, que simplesmente atrasaram a inclusão de homens e mulheres negras na economia formal do país. O exercício de micro-história, quando um evento em menor escala pode mostrar traços e eventos históricos mais amplos, pode ser muito bem compreendido nessa bela, mas triste fotografia.
Ao final da escravidão legal no país, os principais intelectuais brasileiros, nas mais diferentes áreas do conhecimento, adotaram o método “eugenista” de análise da sociedade. Criminologistas, como Nina Rodrigues, artistas, médicos, cientistas e políticos brasileiros e portugueses eram amplamente influenciados pela pseudo teoria racista que dizia que a sociedade brasileira só atingiria progresso econômico, tecnológico e social, ao embranquecer a população. Então, os governantes fizeram a opção de, ao invés de contratarem os homens e mulheres negros libertos, passarem a incentivar a contratação de mão de obra imigrante, principalmente de países europeus, como Itália e Espanha.
Enquanto essas políticas estiveram vigentes, as mulheres e homens negros foram renegados e jogados ao léu, nos centros velhos das cidades ou nos morros que virariam as favelas posteriormente. Na esteira do eugenismo, leis que proibiam imigração africana ou de pessoas de países da América do Sul foram aprovadas. Os homens negros foram os principais alvos do pensamento criminológico pós-escravidão, sendo encarcerados pela lei da vadiagem, enquanto homens brancos eram prestigiados com terras e isenção de impostos.
No Mato Grosso do Sul, por exemplo, grandes quantidades de gaúchos e imigrantes brancos ocuparam terras no Estado, levando homens e mulheres negras para trabalharem como semi-escravizados. Não possuindo documentos, contatos com homens poderosos ou oportunidades na educação formal, negras e negros foram expropriados da oportunidade de crescimento.
A imagem, que consta ter sido captada na cidade de Corumbá, é um retrato da distância entre negros e brancos na escala social, patrocinada pelo próprio Estado.
Hoje, 2021, essa imagem ainda tem tom de tinta tão real, que chega a dar revolta em quem percebe que, em um país como o Brasil, há pessoas que negam o racismo estrutural e todo o prejuízo que um Estado feito para brancos causou nos homens e mulheres de peles mais retintas. Corumbá, anos 30, é o Brasil do século XXI.
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