Esporte, racismo e perseverança:

 a bela e trágica história de João do Pulo, o maior saltador da história do Brasil
Vamos falar um pouco sobre João do Pulo, um dos maiores atletas da história do Brasil.
João Carlos de Oliveira era um menino negro e órfão como inúmeros brasileiros. Sua mãe faleceu quando era bem pequeno e teve que começar a trabalhar, lavando carros, com 7 anos de idade. A distância de sua casa, na cidade de Pindamonhangaba, até o trabalho era de alguns quilômetros e o garoto ia correndo. Desde pequeno, a vida já lhe colocava obstáculos.
Quando se tornou adolescente, João conheceu Pedrão, um professor da USP especialista em atletismo. Com a ajuda do técnico, João conseguiu iniciar um treinamento de salto em distância. Entre a falta de comida no prato, o serviço e os treinos, o garoto quebrou o recorde mundial de salto em distância na categoria Júnior e foi incorporado ao exército brasileiro como cabo, o que o levou aos Jogos Pan-americanos, onde conseguiu quebrar o recorde mundial, com assustadores 17 metros e 89 centímetros na prova do Salto Triplo.
A performance do jovem João o levou para os Jogos Olímpicos de Montreal, em 1976, como um dos favoritos. Porém, por conta de uma cirurgia na barriga, o Comitê brasileiro recomendou que ele não participasse das competições olímpicas. Querendo provar que poderia saltar, João insistiu e conseguiu pular mais de 16 metros, levando o bronze.
Após o término da competição, já em casa, passou a treinar todos os dias, perseverando em busca da vitória. Em 1980, já com dois ouros em jogos Pan-americanos e ainda mantendo o recorde mundial, foi aos Jogos Olímpicos de Moscou, onde disputou com favoritismo contra dois soviéticos.
Chamado de macaco pela torcida soviética, sendo esculachado por técnicos dos atletas, João fez a incrível marca acima de 18 metros, distância que as pessoas diziam ser impossível. Porém, os árbitros cancelaram seu salto. E lá foi João novamente e outra vez fez um número próximo aos 18. Cancelaram novamente. No fim, João ficou em terceiro lugar, levando o Bronze, atrás dos dois russos.
Além dos jogos olímpicos, ele foi tricampeão mundial e passou a ser temido por todos os adversários.
Em 1981, quando voltava para casa, em São Paulo, após um evento em Campinas, João sofreu um acidente automobilístico. Por haver três homens negros dentro do carro, os policiais que chegaram ao local, jogaram João e seus passageiros na gaiola do camburão, pois pensaram se tratar de bandidos, pensamento preconceituoso típico do racismo exacerbado que sangra nossa sociedade.
Após quase um ano na UTI, João teve a perna amputada. Sem a sua principal ferramenta de trabalho, as pernas, João do Pulo estudou Educação Física e foi eleito deputado estadual por São Paulo.
No entanto, ele teve uma carreira curta na política, pois não conseguiu superar psicologicamente a perda da perna e o afastamento do esporte.
Vítima de uma grave depressão, ele morreu solitário, sofrendo de alcoolismo e cirrose hepática. Morreu em uma manhã fria no final de maio de 1999. Sua única fonte de renda era um soldo modesto que recebia do Exército Brasileiro.
O grande atleta, especialista em pulos, bateu recordes mundiais, mas, infelizmente, não conseguiu saltar o principal obstáculo construído historicamente pelo país no qual ele nasceu: o racismo.

Texto copiado dê: Joel Paviotti

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